A agora ex-ministra da Administração Interna já não tinha condições para continuar no cargo há, pelo menos, 4 meses. Era inevitável que saísse do Governo, embora não seja despiciendo referir que foi necessário o Presidente da República intervir para António Costa se submeter ao que já era mais do que evidente. Mas agora, independentemente da dança das cadeiras no Governo, o que importa é saber se o Primeiro-Ministro vai tornar a reforma do dispositivo de prevenção e combate aos fogos uma prioridade nacional, alocando os recursos que forem necessários para evitar que se volte a repetir algo que possa assemelhar-se ao que aconteceu no passado fim-de-semana e em Junho. Agora que veio a chuva, esperemos que não se limite a mudar pouca coisa para que, na essência, fique tudo como está e para o ano haja mais do mesmo, como vem acontecendo há já cerca de 40 anos. Quanto mais não seja, e como Marcelo Rebelo de Sousa deixou patente no seu discurso, para assegurar a sobrevivência do seu Governo – algo que parece motivar o Primeiro-Ministro muito mais do que considerações éticas, sobre o interesse nacional ou a respeito das funções primordiais do Estado.
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Peculiaridades do regime pátrio
Confesso que nunca percebi o motivo da repulsa ou até mesmo ódio que tantos políticos portugueses têm por Santana Lopes. Parece-me tratar-se de um indivíduo com uma autêntica vocação e devoção pela causa pública, não lhe sendo conhecidos quaisquer envolvimentos em esquemas de corrupção e afins ao fim de quase 4 décadas de presença na vida pública e política do país. No caso de muitos dos protagonistas políticos da nossa praça, quase poderia dizer-se que o ódio que lhe dedicam é proporcional ao amor que têm por José Sócrates – o que é revelador quanto baste.
Ora, como já terão adivinhado, vem isto a propósito da recentemente revelada justificação de Jorge Sampaio para ter dissolvido a Assembleia da República em 2004: “fartei-me do Santana.” Não precisamos de recorrer ao estafado argumento de que se fosse alguém de direita a dizer isto de alguém de esquerda, cairia o Carmo e a Trindade. Afinal, já se sabe que o actual regime pende significativamente para a esquerda, permitindo a quem é de esquerda muito do que não poderia ser feito por alguém de direita sem que um coro de indignados se manifestasse violentamente. Limitamo-nos a salientar que se espera do mais alto magistrado da nação que não sucumba a estados de alma, visto que estes não nos parecem poder justificar a decisão de accionar a mais poderosa prerrogativa ao seu dispor, e, assim, a registar que as declarações de Sampaio têm, efectivamente, o condão de fazer de Cavaco Silva um estóico estadista muito superior à média dos políticos que nos vão pastoreando.