A resistência ucraniana e o bluff de Putin

Hoje, no Observador, um artigo meu com uma análise neo-realista sobre a resistência ucraniana e o bluff de Putin a respeito da utilização de armas nucleares.

Importa ainda salientar que, desde o início do conflito, subsiste aparentemente um motivo para as potências ocidentais não intervirem directamente com forças militares convencionais no teatro de guerra: a posse de armas nucleares por parte da Rússia. É o receio de uma escalada conducente a uma guerra nuclear que está nas mentes dos decisores políticos, bem como nas de muitos comentadores, especialmente após a ameaça, por Putin, de consequências nunca vistas na nossa história. Ora, a ameaça implícita de utilização de armas nucleares por Moscovo não é credível. Primeiro, porque, como mencionado acima, os Estados são actores racionais e estratégicos que têm como objectivo primário a sua própria sobrevivência e as armas nucleares só são úteis para efeitos ofensivos se apenas um dos lados num conflito as detiver. Segundo, porque retém validade a brilhante análise de George Kennan no seu Long Telegram (1946) e em The Sources of Soviet Conduct (1947), que esteve na génese da doutrina da contenção do expansionismo soviético. Conforme salientou o eminente sovietólogo, o Kremlin é “Impermeável à lógica da razão e altamente sensível à lógica da força. Por esta razão, pode-se retirar facilmente – e geralmente fá-lo quando encontra uma forte resistência em qualquer ponto.” Assim foi aquando das crises dos Estreitos Turcos e do Irão, logo em 1946, mas também no restante período da Guerra Fria, quando os EUA já não detinham o monopólio das armas nucleares.

Isto significa que o cálculo da utilização de armas nucleares não é tão linear e automático como muitos comentadores e políticos pensam, talvez influenciados pelo clássico de Stanley Kubrick Dr. Strangelove. Trata-se de uma tecnologia eminentemente defensiva e quando dois lados em confronto a detêm, ao invés de poder contribuir para uma escalada, pode precisamente levar ao término das hostilidades. Quando a sobrevivência de um dos lados é colocada em causa pelo recurso a esta tecnologia, devido à garantia de retaliação, deixa de fazer sentido utilizá-la – era nisto que assentava a doutrina da Mutual Assured Destruction (MAD).

Putin está ciente disto e acredita que os Estados ocidentais não intervirão militarmente na Ucrânia devido ao receio de uma escalada para um confronto nuclear. Talvez esteja na altura de o Ocidente ser imprevisível e surpreender Putin com o que para este é improvável, revelando o seu bluff. Seria um golpe de mestre que rapidamente o obrigaria a suspender as hostilidades e a sentar-se à mesa das negociações antes que o seu regime colapse.

A Europa inimiga de si própria

Charles Hill, “Islamism Implacable”:

Put simply, the European Union made itself the epitome of the Modern Age by relentless secularization. Islamism, emerging from the post–World War I collapse of the Ottoman empire and caliphate, made itself the vanguard of jihadist religion’s rise to become the implacable adversary of modernity. If Europe is where the siege is to take place, the drawbridge already is up: Islamism abhors the state; the EU has emasculated it.

Islamism recognizes only one border: between itself and regions yet to become Muslim; Europe has opened its borders to the point of abolishing the concept altogether.

Islamism regards democracy as un-Islamic because it enacts laws other than sharia; the European Union from its inception has acted assiduously to prevent people from governing themselves democratically.

Islamists, like Machiavelli, know that armed prophets are victorious and unarmed prophets are destroyed; the European Union has deliberately diminished its capacities to defend itself or to back its diplomacy with strength.

And while Islamists declare religion to be the answer, the EU has seen religion as the problem. As Pierre Manent has pointed out, had Europeans maintained their identity as sovereign states with a Christian heritage, the assimilation of Muslims could have been possible on the basis of comity,  whereas now it lacks an answer to “assimilation to what?”

Americans need to understand that the Modern Age with its pluralistic structures, societies, and beliefs is under assault and that the enemies of modernity are uniate, unwilling to accept others on an equal basis. In this context America’s involvement in the Middle East must take the side of pluralistic states and parties compatible with the international system.

Only Europeans can rectify the flaws in the European Union’s design to enable Europe to act on the world stage as a bordered state incorporating its historic nation-states in confederation. And only Europeans can attend to the needs of the European soul.

But however the relationship between Britain and Europe comes out, the United States must regard its relations with both as “special.” Transatlantic unity has been the keystone of the defense and extension of freedom in war-time for a hundred years and must remain so.

It is not the European Union but NATO that has been the key to transatlantic solidarity. Strengthening NATO as a military alliance with political consequences in support of a reformed European Union must be at the core of American policy. NATO’s role “out of area” will be vital along with continued efforts to integrate like-minded partners to the extent possible: Russia, Israel, the gulf Arab states. The Modern Age itself is at stake.