Já está disponível o número 7 da Revista Portuguesa de Ciência Política, editada pelo Observatório Político, onde podem encontrar um artigo da minha autoria intitulado “A teoria da decisão em Maquiavel.”
Arquivo mensal: Novembro 2017
Portugal e a Agência Europeia do Medicamento
Portugal só teria hipóteses de acolher a Agência Europeia do Medicamento se fosse Lisboa a cidade candidata e mesmo assim seria sempre muito difícil ser o destino escolhido, tendo em consideração as cidades concorrentes. Creio que Rui Moreira e muitos dos defensores da candidatura do Porto tinham plena consciência disto mesmo. Se não tinham, então transmitiram uma imagem de um país de pacóvios sem noção das condições exigidas para a instalação desta agência. Se tinham, então seguiram à risca a terceira lei da estupidez humana de Cipolla: “Uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa perdas a outra pessoa ou grupo de pessoas sem retirar para si qualquer ganho e até possivelmente incorrendo em perdas.” António Costa, por seu lado, fez um cálculo simples, sacrificando quaisquer hipóteses de o país acolher a agência para marcar uns pontos na região Norte, sempre tão lesta a recorrer à estafada retórica de Porto vs. Lisboa. No fim deste processo, fica patente que, infelizmente, a politiquice sobrepôs-se ao interesse nacional. Estão todos de parabéns.
Das universidades portuguesas
António Fidalgo, Reitor da Universidade da Beira Interior, “Reitor me confesso”:
Sr. Prof. António Coutinho, em Portugal os reitores fazem verdadeiros milagres, omeletes sem ovos. Um estudante português fica mais barato ao Estado do que um aluno do secundário. E qualquer casal paga mais pelo filho na creche do que na universidade. Vamos a números? O proposta de OE de 2018 atribui 1.129 milhões de euros ao ensino superior. Numa regra de três simples, dividindo pelos 300 mil alunos do ensino público, universitário e politécnico, são 3.763 euros por aluno. Em Espanha qualquer universidade recebe do erário público pelo menos o dobro. A Pompeu Fabra em Barcelona recebe 22.000 euros. Mas nos rankings internacionais (deixo ao seu critério escolher qual) as universidades portuguesas em geral estão significativamente mais bem situadas que as espanholas, ou do que as francesas ou italianas (que certamente não terão a miséria de financiamento que as portuguesas têm).
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Concordo com o Prof. António Coutinho de que “os rankings são o que são”, e que os há para todos os gostos, mas convenhamos que a Universidade da Beira Interior com 31 anos, 7.000 alunos, e apenas 22.3 milhões de euros de dotação pública, aparecer entre as 150 “world best young universities” no ranking do Times Higher Education é prova de que os dinheiros públicos estão bem acautelados. Aposto que nenhum reitor da Suécia, da Escandinávia, ou de qualquer país nórdico, nomeado pelo Estado, ou escolhido pelos grandes da finança ou da indústria, consegue apresentar uma melhor relação qualidade-preço.
A experiência internacional do Sr. Prof. António Coutinho levá-lo-á a olhar para a universidade portuguesa como uma miséria. Está no seu direito. A minha experiência internacional, que mesmo assim passa por 7 anos na Alemanha, como mestrando, doutorando e pós-doc, com bolsas de estudo alemãs, por universidades com prémios Nobel no historial, por um ano como visiting scholar numa universidade americana da Ivy League, e por um conhecimento próximo de universidades espanholas e brasileiras, diz-me que as universidades portuguesas oferecem um ensino de qualidade; e que, no que toca a custos, é ímpar.
Islamismo radical, Alt-right e populismo de extrema-direita como reacções à globalização e à perda de significado
Scott Atran, “Alt-Right or jihad?”:
It was religious philosopher Søren Kierkegaard who first discussed ‘the dizziness of freedom’ and the social disruption that it creates. Seizing on the idea in Escape from Freedom (1941), humanist philosopher Erich Fromm argued that too much freedom caused many to seek elimination of uncertainty in authoritarian systems. This has combined with what social psychologist Arie Kruglanski calls ‘the search for significance’, propelling both violent jihadists and militant supporters of populist ethno-nationalist movements worldwide. In the wake of these forces, we see what psychologist Michele Gelfand describes as a ‘tightening’ of political cultures, featuring intolerance of behaviours that differ from the norm. Thus, in our recent fieldwork with youth emerging from under ISIS rule in Mosul, we find that although ISIS may have lost its state, the Caliphate, it hasn’t necessarily lost allegiance among the people to its core values of strict religious rule and rejection of democracy. As one young man put it: ‘Sharia is God telling you what to do … Democracy is humans causing wars and distrust. To be free to do whatever you want leads to many problems and divisions and corruption in society.’
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From jihadis in Europe to white supremacists in the US, people most susceptible to joining radical groups are youth in their teens and 20s seeking community and purpose. The attraction of community is especially keen where there are sentiments of social exclusion or community collapse, whether or not accompanied by economic deprivation. It is a sense of purpose that most readily propels action and sacrifice, including a willingness to fight and die – especially when that purpose is perceived to be in defence of transcendent values dissociated from material costs or consequences.
In our studies across Europe, North Africa and the Middle East, we find that when membership in a tight community combines with a commitment to transcendent values, the willingness to make costly sacrifices will rise. The idea is to encourage devoted action for the sake of absolute values that fuse community and purpose.
This applies to the alt-Right as well. Just look at Patrik Hermansson’s undercover investigation of the extreme Right for the anti-racist group Hope Not Hate. Like recruiters who seek to bring in people from the larger Muslim community through cultural mixers and gatherings and then nudge them towards jihadi values, the alt-Right aims ‘to bring the [white] mainstream towards us’, as far-Right Scottish YouTube vlogger Colin Robertson put it, by avoiding the stereotypical ‘race hate’ line, and by relentlessly focusing on what Aryan Nations portrays as ‘a spiritual-based, numinous way of living’.
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Fearful of the chauvinism and xenophobia that fed two world wars, many Western leaders and press simply denounce national identity or cultural preference as ‘bigoted’ or ‘racist’, and show an ostrich-like blindness to pan-human preferences for one’s own. This leaves the field wide-open for the offensive of white-nationalist groups of the alt-Right, or the far-Right’s less overtly racist alt-Light defenders of ‘Western culture’ against the onslaught of Islam, globalism, migration, feminism and homosexuality.
So how might we intervene? At the 2017 World Economic Forum in Davos, Switzerland, where I presented some of our research findings, I had the impression that most people in attendance thought that the recent surge of jihadism and xenophobic ethno-national populism were just atavistic blips in the ineluctable progress of globalisation that were destined to soon go away. That to me was the most worrisome feature of Davos, whose denizens basically run the world (or try to). Few there seemed willing to change their policies or behaviour. They seemed to view the left-behinds of the dark side of globalisation as simply losers that might be given a handout when artificial intelligence and robots deny them any chance for a decent living.
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At the very least, we must embed ourselves within actual communities to understand which approach may work best. A necessary focus of this effort must be youth, who form the bulk of today’s extremist recruits and tomorrow’s most vulnerable populations. Volunteers for al-Qaeda, the Islamic State, and many extreme nationalist groups are often youth in transitional stages in their lives – immigrants, students, people between jobs and before finding their mates. Having left their homes, they seek new families of friends and fellow travellers to find purpose and significance. The ability to understand the realities facing young people will determine whether the transnational scourge of violent extremism continues and surges or abates.